Fraternidade São Nicolau de Flüe
Fraternidade Ecumênica de São Nicolau de Flüe.Casais devotados a Deus na vida matrimonial.Oração,jejum e relativa soledade no matrimônio como caminho e meio de santidade.
São Nicolau de Flüe (em alemão:Niklaus von Flüe;Flueli,1417 –
Sachseln,21 de março de 1487) foi um eremita,asceta e místico suíço. É
considerado o santo padroeiro da Suíça e algumas vezes invocado como
"Irmão Klaus".Foi um santo ecumênico e conciliador.
Niklaus von Flüe
nasceu em Flueli,perto de Sachseln,no cantão suíço de Obwalden,filho de
camponeses ricos.Destacou-se como soldado na luta contra o cantão de
Zurique,que havia se rebelado contra a Antiga Confederação Helvética.Por
volta dos 30 anos de idade,casou-se com Dorothy Wiss,uma filha de
agricultores que cultivavam a terra no município de Flüeli no
contraforte alpino,acima de Sachseln às margens do lago Sarnen e tiveram
dez filhos.Continuou ainda a sua carreira militar até aos 37 anos de
idade,chegando à patente de capitão,lutando com a espada numa das mãos e
segurando o Santo Rosário na outra.Após servir como militar,tornou-se
conselheiro e juiz no seu cantão em 1459.Atuou como juiz por nove anos
e,possivelmente por ter entrado em contacto com um movimento religioso
chamado "os amigos de Deu)" no qual parece ter ingressado,recusou a
oportunidade de servir como "Landamman" (governador) do seu cantão,e com
o apoio de sua esposa Dorothea Wyss tornou-se eremita.Construiu uma
cabana perto de casa onde se recolhia para dedicar-se à oração e ao
jejum,.Jejuou por cerca de vinte anos alimentando-se somente da
Eucaristia.
Foi canonizado em 1947 por Pio XII.O santo é amado por católicos e protestantes suíços.
Dorothea Weyss deve ser canonizada em breve e o casal será apresentado
como um exemplo de santidade no matrimônio para todo o povo cristão.
sábado, 27 de agosto de 2016
BUDISMO,CRISTIANISMO E REENCARNAÇÃO
O Budismo, o Cristianismo e a Reencarnação
Arthur Shaker
Pergunta - Poderíamos dizer que a linha divisória entre o Cristianismo e o
Budismo é que o Cristianismo descartou da verdade da reencarnação?
Resposta - Não. A hipótese reencarnacionista apresenta uma série de
equívocos que necessitam ser esclarecidos e refutados. Sobre isso, há bons
textos de autores tradicionais (1). Não é que o Cristianismo descartou a
reencarnação, pois nunca houve esta ideia, suposição nem base para esta
interpretação no Cristianismo, e sim que houve no Ocidente uma apropriação
confusa sobre o que supõe-se que estaria nas Tradições orientais como “a
verdade da reencarnação”. Vejamos seus supostos.
O reencarnacionismo baseia-se na suposição de que o indivíduo é uma
realidade permanente que passa por diferentes corpos, à semelhança de
alguém que se mantendo o mesmo, muda de casa em casa até chegar à
perfeição divina. O indivíduo continuaria sendo o mesmo indivíduo na outra
encarnação, apenas mudando de rosto e contexto. Esta ideia de que a
individualidade é uma coisa fixa, que iria buscando novas roupagens em seu
caminho de aperfeiçoamento está fortemente influenciada por uma
interpretação criada na Europa do séc. XIX, por sua vez influenciada por outra
suposição também aí criada, a do Evolucionismo (2).
O evolucionismo pressupõe que “a vida” teria brotado das formas mais
simples, e por um processo que se denominou de “seleção natural”, estas
formas vieram se metamorfoseando em formas mais complexas. A ameba
evolui para uma planta, daí para um animal, que evolui até o homem, que iria
evoluindo até encontrar a Deus. Influenciado por ideias darwinistas e
positivistas do progresso, sob uma visão linear do tempo, criou-se este suposto
da reencarnação. Parece bastante cômodo, esperançoso e pode até justificar o
caos atual como uma “etapa do progresso”.
No corpo doutrinal das Tradições, não vamos encontrar nenhum
fundamento para esta ideia de “um mesmo” que evolui. Esta visão de um
sujeito, que é o mesmo, mudando de corpo em corpo, é totalmente oposta aos
ensinamentos orientais. Para o Hinduismo e o Budismo, que são as Tradições
orientais que o reencarnacionismo toma como supostas fontes, as
individualidades são agregados impermanentes de corpo, sensações,
percepções, pensamentos e consciência, que o Budismo chama de khandhas.
Sendo impermanentes, o que é que poderia passar de uma reencarnação para
a outra?
As doutrinas tradicionais referem-se aos ciclos de renascimento,
segundo diversos reinos existenciais ou samsara. O Budismo divide a
existência segundo três mundos: celestial (dos devas e asuras), nosso mundo
(seres humanos e os outros reinos) e o mundo infernal (os fantasmas
atormentados ou pretas e os estados infernais). No Cristianismo temos as nove
hierarquias angélicas (estados superiores do Ser), o mundo terrestre e os
reinos infernais (estados inferiores). Todos esses planos de existência, regidos
pela lei do dharma e karma, são condicionados, fenomênicos e
impermanentes.
Se há um ressurgimento por esses estados múltiplos, é preciso
esclarecer desde início que não é a individualidade que o faz. Sobre isso, há no
Budismo um importante diálogo, quando o rei Milinda pergunta ao mestre
budista Nagarjuna sobre a continuidade no pós-morte. Nagarjuna responde-lhe
com o exemplo da chama que passa de uma vela para outra. A chama que
passa, é a mesma ou é outra? A manga que nasce da árvore plantada da
semente de uma manga, é a mesma ou é outra? Não podemos dizer que a
chama (ou a árvore ou a manga que da árvore nasce) seja diferente nem a
mesma. Há continuidade (da chama), mas sem identidade.
Continuidade sem identidade. Devido à complexidade desta
compreensão, muitos monges evitam comentar este tema com leigos recém-
ingressos. Este é um tema de profunda meditação metafísica, que foi
vulgarizado a título de reencarnação, que seria uma simplificação grosseira da
visão metafísica sobre o renascimento e que serviria de simulacro de
entendimento para mentes preguiçosas. Já nos referimos como a distorção de
temas de elevado teor metafísico tradicional serviram para a construção de
correntes que se pretendem “popularizar” o conhecimento das Tradições.
Continuidade sem identidade. Muito vezes o reencarnacionismo
pretende se apoiar na concepção hindu de Atma como o Si, o Self, confundida
com o agregado psíquico, o Ego que reencarna. Incorre-se no erro de
considerar o ego uma entidade permanente. Haveria uma segunda questão, se
seria possível a repetição da mesma experiência corporal, ainda que não fosse
a mesma entidade da individualidade egóica que reaparecesse no mundo
terrestre. Este parece ser o ponto que marca certa divergência mesmo entre
autores tradicionais orientais hindus e budistas. Aqueles que sustentam a
impossibilidade do renascimento no mundo corporal, como é o caso de autores
como René Guénon, tomam por fundamento a lei da passagem única do ser
por um mesmo estado (3), segundo a Lei da Possibilidade Universal, que não
admite repetição. Quanto à interpretação moderna de reaparecimento em
outros planetas ou “planos astrais”, são ideias e termos alheios às doutrinas
tradicionais de modo geral.
Um dos argumentos usados pelos reencarnacionistas, agora provindo
não das doutrinas orientais, mas supostamente do Cristianismo, seria a
passagem do Novo Testamento em que Cristo refere-se à necessidade de
“nascermos de novo”. Quando Cristo fala que devemos entrar no reino do céu
como crianças, ou nus, ou como mendigos, está se referindo ao imperativo de
despirmo-nos de nossa individualidade, véu útil até certo ponto, teia de aranha
que emaranha a partir de certo ponto. Tendo nascidos para o corpo, temos
agora de re-nascer para o Espírito. Renascer no sentido inicial de regeneração
psíquica, compreensão profunda das tendências psíquicas geradas pela
ignorância e apego, e recondução das forças psíquicas para o centro do estado
humano - a condição primordial do Paraíso terrestre, através do apoio da
influência espiritual (oferecido pela Graça do batismo, no caso do Cristianismo),
para desta condição central galgar os estados superiores até a libertação final.
Cristo fala em renascer e não em re-encarnar. Renascimento é muito outra
coisa do que a interpretação reencarnacionista sobre esse ensinamento de
Cristo.
Só pode ”entrar no Céu” o que é do Céu (se quisermos aproximar esta
noção, em sua última instância, com a noção budista do Incondicionado). O
corpo e o mundo psíquico, sendo agregados condicionados, não podem entrar
no Céu, nem podem reencarnar. O que renasce (reaparece) no mundo
samsárico são as tendências psíquicas, os sankharas. Mas estas tendências
psíquicas não têm individualidade. Do ponto de vista da consciência, a hipótese
reencarnacionista fortalece e revela o apego de nosso ego que quer se
perpetuar. Com a desintegração do corpo, o agregado psíquico também se
desagregará, assim não existirá mais um ego. As tendencias kármicas
impulsionam o renascimento com novos agregados (corpo, sensação,
percepção, formações mentais e consciência).
Outro argumento de “prova do reencarnacionismo” seria o
reconhecimento que às vezes é feito sobre lugares familiares. Aqui mais uma
vez coloca-se a questão científica de como um fato pode ser considerado prova
de uma construção teórica. O tão propalado “caráter científico” de uma teoria
pode ser apenas um modo equivocado de ligar fatos e fenômenos a
interpretações.
Certas doutrinas tradicionais ensinam que quando um indivíduo morre,
com a desagregação de seu psiquismo, muitos resíduos psíquicos (ob, na
terminologia da tradição judaica) podem passar para outra pessoa, o que
explica o fenômeno do reconhecimento sem a decorrência da hipótese da
reencarnação. O mesmo processo pode ocorrer em membros da mesma
família, que ao nascer recebem estes resíduos do parente falecido, ou mesmo
de hereditariedade de traços psíquicos familiares. O mesmo processo de
transferência se dá nos casos de “sugestão”. E são exatamente esses mesmos
resíduos psíquicos, que os ritos tradicionais funerários procuram dissolver, é
que são atraídos pelos chamados “mediuns”, acreditando ser a “comunicação
com os mortos”, o que evidencia o quão ingênuas e equivocadas são estas
práticas decorrentes de uma visão incorreta, à qual se soma os terríveis
perigos a que estão submetidos ao atraírem essas forças errantes, servindo
muitas vezes inconscientemente ao jogo de tendências tenebrosas, disfarçadas
de “espirituais”.
Alguém comenta que no Budismo Tibetano os Lamas se referem a si
mesmos muitas vezes como encarnações de outros Lamas. Talvez os
tibetanos não tenham clareza sobre as consequências do uso deste termo no
Ocidente, aumentando com isso a confusão e criando uma pseudo-identidade
entre o Budismo Tibetano e estas organizações reencarnacionistas ocidentais.
Talvez melhor entender que o que existiria seria uma influência espiritual que
perpassa estes Lamas. Esta influência espiritual, como a chama da vela, se
repõe no mundo como Compaixão, sem que possamos dizer que um Dalai
Lama seja reencarnação, enquanto individualidade, do Dalai Lama anterior. É o
Dharma que se repõe para benefício dos seres. Como individualidades não há
substância que se repita. O mesmo poderíamos dizer de Siddharta Gautama. A
individualidade de Shakyamuni não é o tema de veneração dos budistas, mas
sim o Dhamma (Dharma), que o Buddha Shakyamuni vai novamente realizar, é
para este Dharma, a Verdade, que os budistas prestam homenagens. Quando
estávamos no mosteiro de Suan Mokkh, na Tailândia, por ocasião do Vesak,
data que o Budismo Theravada comemora a Iluminação de Buddha, ouvimos
Buddhadasa Bikkhu, que era o preceptor espiritual deste mosteiro, dizer em
seu sermão a todos, monges e leigos tailandeses e ocidentais, de modo bem
claro e ao estilo Zen: “Todo ano vocês vêm aqui pedir-me bênçãos. O que
vocês fazem com tanta benção? Penduram no cabide e guardam no armário?
Vocês devem buscar o Dhamma, o Buddha-Dhamma que está dentro de
vocês”.
O reencarnacionismo, conscientemente ou não, se alimenta e realimenta
a ideologia do “progresso” e da “tendência de aperfeiçoamento da Natureza”.
Esta hipótese da tendência linear ascendente de “progresso” e
“aperfeiçoamento” é oposta à visão das grandes religiões, que ensinam sobre o
caráter cíclico do tempo e da manifestação, e a tendência descendente,
”materializante” e descendente do Cosmos. Se o Mundo caminhasse
“naturalmente” para o alto, os Buddhas não precisariam surgir no mundo e
ensinar o Dhamma, ou Cristo não precisaria ter vindo nem teria sido
crucificado. Esta hipótese “progressista” termina também por justificar
socialmente a agressão aos povos rotulados pelo mundo moderno como
“primitivos, atrasados, tradicionais”. Assim como a civilização moderna, por
seus esforços, teria evoluído até alcançar este degrau invejável, que impõe por
sedução e força a todos os povos, cada homem poderia “evoluir” até chegar a
Deus.
Dentre as correntes reencarnacionistas, há até aquelas que consideram
que mesmo Deus evolui. Fantástica esta ideia, pois se Deus evoluísse não
seria Deus, pois existiria algo melhor que Ele a ser atingido e assim
indefinidamente. O Princípio Supremo que não é Supremo, sempre a lhe faltar
algo! Há até aquelas que afirmam estarmos na “metade do tempo da
eternidade” (sic); que nós teríamos chegado até esta metade da eternidade, a
outra metade da eternidade seria para que o próprio Deus se completasse! O
Princípio Supremo que evolui, a metade do tempo da eternidade, é fantástica a
total ignorância sobre princípios básicos da Metafísica!
Crer que o caminho espiritual é uma espécie de progresso, que pouco a
pouco se vai chegando “perto de Deus“, ou da Iluminação libertadora, é
incorrer no mesmo erro de colocar na mesma linha o mundo e a
Transcendência, o tempo (ou outro modo de duração) e a Eternidade. Do ponto
de vista de uma progressão matemática, nunca se chegará, pois sempre
haverá uma lacuna, uma descontinuidade entre o imperfeito e o Perfeito. Pois
não há medida entre a Manifestação e o Absoluto. Nunca se passará da
imperfeição para a Perfeição por um processo progressivo, só através da
iluminação, instantânea, um salto. Usando o simbolismo matemático, a
operação não seria a diferencial, que fosse diminuindo as distâncias, mas a
integral (4), o salto, o súbito, o repente.
Pouco a pouco não se passa linearmente do plano condicionado ao
Absoluto, pois entre o Absoluto e o relativo não há nenhuma medida ou
passagem de continuidade. O equívoco da visão “progressiva” é querer projetar
sobre o Incondicionado os parâmetros de espaço, tempo, e, portanto, distância,
que definem o condicionado e, rebaixando o Absoluto à imagem de um ponto
na mesma linha de nosso mundo, crer que a distância irá quantitativamente
diminuindo até chegarmos lá. Erro de matemática elementar, e mostra o quanto
o ensino da matemática perdeu as bases metafísicas do que constitui a
matemática tradicional.
O mesmo equívoco se aplica à ideia de que, de reencarnação em
reencarnação, aperfeiçoando-se pouco a pouco se chega ao Deus. Pouco a
pouco sempre faltará um pouco. Quando no Budismo, assim como em outras
Tradições, se diz que devemos avançar “pouco a pouco”, é no sentido de
incentivar no praticante a paciência diante dos incontáveis obstáculos, e porque
a integração dos ensinamentos e dos estados de absorção realizados (jhanas)
demanda uma operação assimilativa e não no sentido de que estados do ser
estejam em uma linha evolutiva (que estaria, portanto, subordinada às
condições de espaço e tempo) a ser percorrida pela individualidade. Por isso
se fala em iluminação, porque é instantânea. É um raio, uma integração, não
um progresso.
A realização espiritual pode se dar a partir de qualquer estado. Mas
porque esperar ou projetar para um futuro, desconhecido e de novos
sofrimentos, a realização que deve ser aqui e agora? Não é inclusive mais
econômico? Hoje em dia se faz o culto do “homem econômico”, “da produção”,
mas quando se trata de realização espiritual não aplicam o senso de economia,
mas a querem em longas prestações, como um carnê que por incontáveis
ciclos se vai comprando com boas ações. Não seria melhor a Felicidade já,
como quem compra à vista, não tendo mais dívida, nem com o que se
preocupar? Pois quem garante que o novo renascimento não será em um
estado pior que este humano?
É claro que existe um desenvolvimento interior, obtido segundo as
orientações próprias de cada Tradição. No caso do Budismo consiste na
observação e abandono dos apegos e visões errôneas com que identificamos
os cinco agregados do corpo, sensação, percepção, formações mentais como
“Isto sou eu, isto é meu, isto é meu eu” . A superação destas delusões, que
estão enraizadas na ignorância, se dá através da prática do Nobre Óctuplo
Caminho: visão correta, pensamento correto, fala correta, ação correta, modo
de vida correto, esforço correto, plena atenção correta e concentração correta.
Estando no Caminho, e não há caminho fora de uma Tradição, nunca se sabe
em que momento vai se dar o salto, por isso o melhor é trabalhar firme. Diz um
sutra budista: “Louvemos aquele que vive verdadeiramente (empenha-se sem
preguiça por todo o dia e a noite), mesmo que por uma única noite”.
Trabalhemos sem cessar contra a ignorância sobre o que é nossa verdadeira
natureza. O sábio hindu Ramana Maharshi fazia do centro de sua prática a
ininterrupta pergunta básica: “Ko’ ham, Quem sou eu?”
A substituição desta indagação central por uma crença no “progresso
espiritual” do “eu” é apenas mais um truque do Ego, que ameaçado de ser
desmascarado e perder o trono da ilusão, finge aceitar a sua pequenez, o
“pequeno Eu, o Eu inferior”, e despindo-se da roupa pomposa, veste os
humildes trajes do asceta e prossegue alimentando o seu orgulho agora sob a
bandeira do “progresso espiritual” rumo ao “Eu superior”. Essa engenhosa
manobra foi bem analisada no livro “Materialismo Espiritual”, do mestre tibetano
Chogyam Trungpa. O uso de drogas, a título de propiciar “o acesso às luzes
espirituais”, refere-se a este mesmo tipo de ilusão do Ego “evoluindo
espiritualmente” por estados alterados de consciência. A baixa qualidade
intelectiva no discernimento do que seja uma doutrina e prática tradicional é um
dado característico dos pseudo-caminhos, e por isso são de fácil ingresso.
Quando um cego conduz outro cego, os dois caem no buraco.
Não se trata de negar a ideia de Caminho, nem que ele possa ser mais
ou menos árduo ou longo conforme as qualidades e empenho de cada um. A
crítica é para esta ideia da individualidade que permanece e vai crescendo e se
espiritualizando. Todos os agregados, incluindo a consciência, estão a todo
segundo nascendo e morrendo. A cada instante a consciência nasce, quando
do contato com os objetos mentais ou corporais, a cada instante a consciência
morre.
Nas palavras de um monge budista:
“A reencarnação é a ideia da existência de um espírito separado do
corpo; com a morte do corpo esse mesmo espírito reassume uma outra forma
material e segue evoluindo. O renascimento na concepção budista não é a
transmigração de um espírito, de uma identidade substancial, mas a
continuidade de um processo, um fluxo do devir, no qual vidas sucessivas
estão conectadas umas às outras através de causas e condições. Esse
processo ou fluxo não ocorre apenas com a morte, mas está presente
constantemente nas nossas vidas. Nós estamos em constante mudança; cada
momento nas nossas vidas surge na dependência do momento anterior, que
deixou de existir. É como a correnteza de um rio, fluindo em mudança contínua,
sem cessar. Não é possível entrar no mesmo rio duas vezes.
Para o Budismo, com a morte, a consciência, com todas as suas
tendências, preferências, habilidades e características que foram
desenvolvidas e condicionadas nesta vida, se re-estabelece no embrião. Dessa
maneira, o ser cresce, nasce e desenvolve uma personalidade condicionada
pelas características que foram trazidas da vida passada e pelo novo ambiente,
além de outros fatores condicionantes como a hereditariedade, etc. Essa
personalidade está sujeita a mudança e será modificada através do esforço
consciente por fatores condicionantes tais como a educação, a influência dos
pais e da sociedade, etc. Outra vez, com a morte, essa consciência irá se re-
estabelecer num novo embrião. Esse processo de renascimento irá continuar
até que as condições que o causarem persistam. Quando essas condições
deixarem de existir, ao invés de renascer, a consciência alcançará um estado
que é chamado nirvana, e esse é o objetivo último no Budismo. (...)
Imagine as ondas de rádio. As ondas de rádio não são compostas de palavras
ou notas musicais, mas de energia em distintas freqüências que são
transmitidas através do espaço, e atraídas e capturadas por um receptor no
qual se manifestam como palavras e música. Algo similar ocorre com a
consciência. Ao morrer, a energia mental cruza o espaço e se une ao esperma
e o óvulo para formar o novo ser. O embrião e a consciência se desenvolvem
através de uma relação de mútua dependência e influência.
Todas nossas ações passadas de corpo, fala e pensamento, todos os
sentimentos, percepções, formações mentais, etc., que experienciamos,
deixaram suas impressões em nosso subconsciente continuum de vida. (...) Se
na hora da morte, a pessoa ainda estiver envolvida com o processo da
produção kármica de cobiça, apego e vir-a-ser, então essa força de apego (o
sankhara) irá se manifestar em outra existência, em outro corpo com os órgãos
do sentido. No momento da morte, a mente normalmente está atraída ao plano
de existência o qual é de acordo com a personalidade expressa nos hábitos e
tendências acumuladas (Rahula, Bhante Yogavacara. Karma e Renascimento.
Cap. III, em The Way to Peace and Hapiness, p. 82-83, Sri Lanka, Buddhist
Cultural Centre, 1997, (Trad. Teresa A. Kerr). Disponível em:
http://www.casadedharmaorg.org).
O surgir e desaparecer rápido da consciência é apenas um dos aspectos
do contínuo fluxo de mudança que caracteriza todo o cosmos. Para o Budismo
este é o ponto central de constante meditação, e cuja evidencia nos abre o
acesso à superação do nascer e morrer. Não se trata de hipóteses, mas de
uma ciência experienciável por qualquer um. Em nossos dias, tende-se a
aceitar ideias muitas vezes grosseiras, desde que venham com o rótulo de
“científico”, sem que se avalie exatamente o que se quer dizer com uma
“verdade cientifica”. Predomina em nossa época “a crença na ciência - o
cientificismo”.
Na esteira do evolucionismo vieram a esperança nos discos voadores,
nos seres extraterrestres, nas galáxias dos super-desenvolvidos. Em tudo isto,
a ideologia do desenvolvimento, o inchaço do ego, da ambição a qualquer
custo, da espiritualidade independente. “Bem-aventurados os pobres de
espírito”, dizia Cristo. A “pobreza” está no compreender a insubstancialidade do
ego, anatta, não-eu, e não se apegar na ilusão de que é esta entidade egóica
com que nos identificamos como sendo “eu, meu” vai se realizar
espiritualmente. Ademais, como a morte cobre com o véu do segredo o que
realmente será a vida futura, seja que o prosseguimento se dê com o
reaparecimento das tendências psíquicas neste plano ou em outros estados
existenciais, seria mais prudente retermos a verdade central, a de que se há
algum crescimento espiritual que leve à realização espiritual, ele está em
buscarmos superar a visão incorreta de que os agregados do corpo, sensação,
percepção, formações mentais e consciência são “meu eu”. Purificando a
mente dos apegos e visões incorretas, através do cultivo das virtudes (fala
correta, ação correta, modo de vida correto), da concentração (esforço correto,
plena atenção correta e concentração correta) e sabedoria (visão correta,
pensamento correto), alcança-se o estado do arahant, a realização de
Nibbana, o Incondicionado, único refúgio seguro, o Imortal, aqui e agora.
Notas
(l) Sobre isso, ver:
Buddhadasa Bhikkhu - Anatta e Renascimento. São Paulo. Casa de
Dharma, l993 (para efeito de estudos).
Frei Boaventura Kloppenburg - Espiritismo - Orientação para os católicos.
São Paulo: Ed.Loyola, l986.
René Guénon - L’Erreur Spirite. Paris: Ed. Traditionelles, l952.
Ricardo Sasaki - O outro lado do Espiritualismo moderno - Para
compreender a Nova Era. Petrópolis: Vozes, 1995.
(2) Sobre isso, ver:
Arthur Shaker F. Eid - A questão do Evolucionismo. Considerações, em A
Travessia da Vida e da Morte – Introdução a uma Antropologia
Espiritual. RJ, Gryphus, 2003.
(3) Sobre isso, ver:
René Guénon - Les Etats Multiples de l’Etre. Paris: Vega, 1980.
(4) Sobre isso, ver:
René Guénon - Caractere synthétique de L’ Integration, cap. XXII, in Les
Principes du Calcul Infinitesimal. Paris: Gallimard, 1946. (Excelente
obra sobre os conceitos básicos da Matemática tradicional e os
equívocos feitos pela Matemática moderna sobre os mesmos).
DE BUDISTA A CRISTÃO
De budista a cristão
Atualmente existem pessoas que são hinduístas ou budistas e também cristãs.Não sei dizer se o Paul Williams soube harmonizar o budismo,que nada afirma ou nega sobre Deus (não sendo propriamente uma religião,embora tenha se misturado com as mitologias locais nos diversos países onde foi difundido),com o cristianismo.Por meu lado,eu continuo crendo na doutrina tradicional cristã (salvação pela graça e na ressurreição,segundo o Evangelho e em conformidade com o ensino do cristianismo tradicional e o ensino de todos os santos cristãos)),à qual me foi divinamente revelada e não ensinada por alguém.Mas há muito tempo estou aberto às riquezas das grandes tradições religiosas,pois cada uma delas tem algo único e singular que podemos e devemos conhecer para não ficarmos presos a uma visão parcial da espiritualidade e conseqüente empobrecimento teórico e prático com relação à nossa própria vida espiritual.A meu ver,a tradição budista tem uma concepção muito mais interessante da reencarnação do que a concepção ocidental,que é uma corrupção da concepção original oriental.Enquanto no Ocidente a reencarnação é vista como solução,no Oriente é vista como o grande problema.Enquanto no Ocidente os reencarnacionistas procuram acumular "bom" carma para perpetuar o ego ilusório e a delusão ou ilusão (maya) inerente à vida egóica,no Oriente a preocupação é livrar-se de todo carma,pois tanto o mau carma quanto o "bom" carma prendem os seres sencientes na perpétua roda (samsara) de reencarnações,nas quais experimentarão as misérias da vida condicionada:enfermidade,decrepitude e morte,para poder viver a partir do verdadeiro Eu (Imago Dei) integrado ao Self (Eu transcendental,ou Deus) e perceber a realidade como ela realmente é,alcançando deste modo a iluminação ou a libertação (moksha) final,que seria algo equivalente à salvação cristã.Enquanto no Ocidente,a única prática para obter "bom" carma e uma encarnação melhor é uma espécie de Karma-Yoga (yoga=jugo,disciplina e karma= ação,boas ações,pricipalmente a filantropia que não deve ser confundida com a verdadeira caridade) dissociado dos outros yogas sem os quais é incompleto,no Oriente as práticas englobam todas as dimensões do ser humano.Existe também no Oriente a crença na possibilidade de um iluminado ou Guru realizado tomar sobre si o carma de outra pessoa,havendo relatos de que tal coisa foi feita com a correspondente conseqüência positiva.Para nós cristãos,Deus tomou nosso "carma",o "carma" de toda a humanidade sobre si em Cristo."E,quando vós estáveis espiritualmente mortos nos vossos pecados,vos vivificou em comunhão com Cristo,perdoando-vos todas as ofensas,havendo riscado a cédula das dívidas contra nós nas suas ordenanças,a qual nos era contrária,e a tirou do meio de nós,cravando-a na cruz."
Colossenses 2,13-14
http://www.ahandfulofleaves.org/documents/Unexpected%20Way_On%20Converting%20from%20Buddhism%20to%20Catholicism_Williams_2002.pdf
http://www.fiuxy.net/ebooks-gratis/4495582-una-conversion-del-budismo-al-catolicismo-paul-williams.html
Atualmente existem pessoas que são hinduístas ou budistas e também cristãs.Não sei dizer se o Paul Williams soube harmonizar o budismo,que nada afirma ou nega sobre Deus (não sendo propriamente uma religião,embora tenha se misturado com as mitologias locais nos diversos países onde foi difundido),com o cristianismo.Por meu lado,eu continuo crendo na doutrina tradicional cristã (salvação pela graça e na ressurreição,segundo o Evangelho e em conformidade com o ensino do cristianismo tradicional e o ensino de todos os santos cristãos)),à qual me foi divinamente revelada e não ensinada por alguém.Mas há muito tempo estou aberto às riquezas das grandes tradições religiosas,pois cada uma delas tem algo único e singular que podemos e devemos conhecer para não ficarmos presos a uma visão parcial da espiritualidade e conseqüente empobrecimento teórico e prático com relação à nossa própria vida espiritual.A meu ver,a tradição budista tem uma concepção muito mais interessante da reencarnação do que a concepção ocidental,que é uma corrupção da concepção original oriental.Enquanto no Ocidente a reencarnação é vista como solução,no Oriente é vista como o grande problema.Enquanto no Ocidente os reencarnacionistas procuram acumular "bom" carma para perpetuar o ego ilusório e a delusão ou ilusão (maya) inerente à vida egóica,no Oriente a preocupação é livrar-se de todo carma,pois tanto o mau carma quanto o "bom" carma prendem os seres sencientes na perpétua roda (samsara) de reencarnações,nas quais experimentarão as misérias da vida condicionada:enfermidade,decrepitude e morte,para poder viver a partir do verdadeiro Eu (Imago Dei) integrado ao Self (Eu transcendental,ou Deus) e perceber a realidade como ela realmente é,alcançando deste modo a iluminação ou a libertação (moksha) final,que seria algo equivalente à salvação cristã.Enquanto no Ocidente,a única prática para obter "bom" carma e uma encarnação melhor é uma espécie de Karma-Yoga (yoga=jugo,disciplina e karma= ação,boas ações,pricipalmente a filantropia que não deve ser confundida com a verdadeira caridade) dissociado dos outros yogas sem os quais é incompleto,no Oriente as práticas englobam todas as dimensões do ser humano.Existe também no Oriente a crença na possibilidade de um iluminado ou Guru realizado tomar sobre si o carma de outra pessoa,havendo relatos de que tal coisa foi feita com a correspondente conseqüência positiva.Para nós cristãos,Deus tomou nosso "carma",o "carma" de toda a humanidade sobre si em Cristo."E,quando vós estáveis espiritualmente mortos nos vossos pecados,vos vivificou em comunhão com Cristo,perdoando-vos todas as ofensas,havendo riscado a cédula das dívidas contra nós nas suas ordenanças,a qual nos era contrária,e a tirou do meio de nós,cravando-a na cruz."
Colossenses 2,13-14
http://www.ahandfulofleaves.org/documents/Unexpected%20Way_On%20Converting%20from%20Buddhism%20to%20Catholicism_Williams_2002.pdf
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